Cá estamos nós com mais uma continuação de um filme clássico de terror. (Embora este não tão clássico assim…) E indo direto ao ponto, na matéria anterior falamos sobre as visíveis mudanças no aspecto psicológico do nosso vilão, Ben Willes, onde agora ele deixa para trás qualquer sombra do pai que antes virara assassino para vingar a filha e a si mesmo e de fato se torna um típico monstro, mostrado neste roteiro como alguém que agredia a esposa no passado e uma máquina de matar no presente.
Então retomando a sequência de acontecimentos do filme, após a briguinha de Julie e Ray acontecem várias ceninhas que teoricamente deveriam assustar mas tiram toda tensão que um filme como este precisaria manter – quando você descobre repetidas vezes que era só medo infundado da personagem e não havia nada lá – onde Julie sempre pensa estar vendo ou ouvindo Ben tanto em seu quarto quanto até numa boate para onde a amiga Karla a pressiona à ir.
Aliás a amiga e colega de quarto vive tentando empurrar Julie para Will (Matthew Settle), um amigo de seu próprio namorado Tyrell (Mekhi Phifer), negro como ela, confirmando como sempre o padrão americano de que as pessoas apenas se atraem ou se apaixonam somente por outras pessoas COM A MESMA RAÇA OU ETNIA. Tyrell ocupa no filme o lugar de “o cara que só pensa na virilidade” enquanto Will tentará (irritantemente) ocupar o papel do “certinho romântico”, com quem a Julie diz não querer nada tantas vezes que na metade do filme você já está gritando com Karla por insistir tanto em juntar os dois e bem longe de achar isto engraçado, como se nota que foi a princípio a intenção do infeliz roteirista… O fato – que fracassará miseravelmente como “grande revelação” no final – é que ironicamente Will Benson é filho de Ben Willes, e mais pateticamente irônico ainda é que o moço é um personagem tão “bem construído” (aspas=sarcasmo) nesta história que o nome e sobrenome dele é uma inversão óbvia do sobrenome e nome de seu pai! (Kevin Williamson, cadê você com teus roteiros maravilhosos nesta horas!?)
Aliás faço minhas as palavras de outro telespectador deste filme que vi dizer que quando Julie e sua colega de quarto Karla ganham quatro viagens para uma ilha nas Bahamas na promoção de uma rádio, as circunstâncias suspeitas da vitória das garotas “causam pânico no espectador brasileiro antes das mortes começarem”. Ele tinha razão, pois elas simplesmente respondem a pergunta de uma promoção dizendo que a capital do Brasil era Rio de Janeiro! Alguém se esqueceu de lhes avisar que a resposta estava com muitas décadas de atraso.
Posteriormente Estes (Bill Cobbs), um antigo funcionário do hotel para onde as moças vão, será quem irá alertar-lhes e mostrar no mapa o engano, bem mais tarde e quando as primeiras mortes acontecem. Ele é um homem sábio e negro, que funcionaria bem como uma boa alegoria do “velho sábio” – que em filmes mais antigos de terror, podia ser um “velho sábio e sinistro” interpretado por muitos como um “mensageiro”, que costuma alertar sobre o que “se deve ou não fazer para sobreviver”… Mais recentemente Wes Craven, com sua metalinguagem, atualiza esta “figura” para um “geek de filmes de terror” que conhece bem todas as “regras” de sobrevivência. Mas este é assunto para um próximo artigo… Neste vale dizer que já quase no final do filme Estes aparece como praticante de voodoo e por isto muito preconceituosamente acusado de assassino quando pequenos pertences de Julie e seus amigos somem, e depois eles descobrem estar num altar na casa do idoso senhor. Que na verdade apenas estava tentando protegê-los com seus rituais ao perceber que coisas realmente sombrias (e que nada têm haver com práticas místicas ou religiosas) estão acontecendo.
Então, ainda na chegada de Julie e Karla à (por enquanto) ensolarada ilha, sem conseguir mais inovar com a temática do verão soturno (como foi feito lindamente no primeiro filme) o roteiro de “Eu ainda sei o que vocês fizeram no verão passado” tenta se voltar por alguns minutos para o “verão genérico”, com piscinas e praia nas Bahamas… Embora em seguida o objetivo seja frustrar esta ideia colocando os personagens isolados num resort deserto com uma infindável tempestade de verão, que dura da metade de filme até o final – e eis aqui a justificativa do nome do artigo.
Como já dizia o falecido Randy Meeks, personagem “geek de filmes de terror” que mais me representava em “Pânico”/Scream: “as sequências de terror por definição são filmes inferiores aos originais e a contagem de corpos é sempre maior”, e ele estava certíssimo! Pois daí para frente será tudo o que veremos neste filme! Fazendo a alegria dos que assistem tais filmes apenas para ver as mortes mais bizarras e colaborando para a má fama do gênero quando isto acontece numa trama rasa como esta… O que se inicia após uma rápida interação de Julie e companhia com personagens coadjuvantes locais do hotel tais como uma barwoman Nancy (Jennifer Esposito, que dois anos depois seria a vampira Solina em Drácula 2000) que lhes serve uma bebida com nome particularmente interessante: “Tempestade Sombria”, a qual define exatamente a situação na qual eles se encontram.
Havia também um recepcionista e gerente arrogante e racista (Jeffrey Combs, repetindo personagens que já havia feito em outros filmes), o já mencionado Estes, Titus um maconheiro local que tenta vender erva para tudo que se mexa e tenta ser um alívio cômico no filme ( o querido e talentoso Jack Black, muito mal aproveitado e com uma morte absurdamente estúpida) e um funcionário das barcas negro e uma camareira latina que nunca saberemos o nome porque morrem rapidamente e sem justificativa alguma somente para aumentar a contagem de corpos.
Então depois da tentativa de Ben em literalmente fritar Julie em uma das esteiras de bronzeamento artificial do resort, as famosas cenas de perseguição aqui foram trocadas por sucessivos gritos diante de cadáveres que vão tirando toda aquela maravilhosa tensão que as cenas de perseguição do primeiro filme nos davam. E aqui temos sustos mal dados em, não uma, mas três moças sobreviventes – apesar de uma delas morrer pelo caminho: Julie, Karla e Nancy, onde elas vão encontrando um corpo atrás do outro… E cabe aqui mencionar um detalhe por trás das câmeras de que a princípio seria Karla quem morreria, mas acabaram mudando para Nancy.
Será que posso crer, pessoalmente, que talvez ficasse “feio” uma funcionária coadjuvante e sem importância para a trama (além de preparar as “Tempestades Sombrias” unicamente) sobreviver, e uma coprotagonista negra morrer sem mais nem menos…? Contudo, tal pensamento pode ser pura ingenuidade minha considerando que na contagem de corpos os negros certamente ganham em disparada neste filme. Algo que não é exclusivo deste, uma vez que muitos filmes mais antigos seguem este padrão de mortes focado na hierarquia racial…Houve inclusive críticas sutis à isto na metalinguagem dos filmes de terror dos anos 90 e de maneira bem mais direta nos últimos anos.
Aliás, lembra do namorado da Karla, neste filme? O Tyrell… Além do fato de que ambos, O CASAL NEGRO (que deveriam ser COPROTAGONISTAS para formar um “novo quarteto” junto a Julie e Will) simplesmente NÃO TINHAM SOBRENOMES, o texto do rapaz se resumia apenas a querer transar e falar disto todo tempo… E por mais que ele estivesse ocupando o lugar de Barry Cox como “o idiota do grupo” até o falecido loiro que era um imbecil hipócrita tinha falas melhores!
Encerro perguntado retoricamente… Quem escolheu este roteirista mesmo? Porque Kevin Williamson ficou de fora desta vez? Bom, provavelmente por sentir o “cheiro de tempestade sombria” no ar. Então, tomem cuidado com promoções e viagens suspeitas, veja se tem alguém com um gancho embaixo da tua cama antes de terminar de ler, e até o próxima postagem…Que será uma outra franquia, um filme original e e não sequência, assim por definição bem melhor que o de hoje.