[Analisando Filmes] – Tempestade de Verão – – PARTE 2/2

Cá estamos nós com mais uma continuação de um filme clássico de terror. (Embora este não tão clássico assim…) E indo direto ao ponto, na matéria anterior falamos sobre as visíveis mudanças no aspecto psicológico do nosso vilão, Ben Willes,  onde agora ele deixa para trás qualquer sombra do pai que antes virara assassino para vingar a filha e a si mesmo e de fato se torna um típico monstro, mostrado neste roteiro como alguém que agredia a esposa no passado e uma máquina de matar no presente.

Então retomando a sequência de acontecimentos do filme, após a briguinha de Julie e Ray acontecem várias ceninhas que teoricamente deveriam assustar mas tiram toda tensão que um filme como este precisaria  manter – quando você descobre repetidas vezes que era só medo infundado da personagem e não havia nada lá – onde Julie sempre pensa estar vendo ou ouvindo Ben tanto em seu quarto quanto até numa boate para onde a amiga Karla a pressiona à ir.

Aliás a amiga e colega de quarto vive tentando empurrar Julie para Will (Matthew Settle),  um amigo de seu próprio namorado Tyrell (Mekhi Phifer), negro como ela, confirmando como sempre o padrão americano de que as pessoas apenas se atraem ou se apaixonam somente por outras pessoas COM A MESMA RAÇA OU ETNIA. Tyrell ocupa no filme o lugar de “o cara que só pensa na virilidade” enquanto Will tentará (irritantemente) ocupar o papel do “certinho romântico”, com quem a Julie diz não querer nada tantas vezes que na metade do filme você já está gritando com Karla por insistir tanto em juntar os dois e bem longe de achar isto engraçado, como se nota que foi a princípio a intenção do infeliz roteirista… O fato – que fracassará miseravelmente como “grande revelação” no final – é que ironicamente Will Benson é filho de Ben Willes, e mais pateticamente irônico ainda é que o moço é um personagem tão “bem construído” (aspas=sarcasmo) nesta história que o nome e sobrenome dele é uma inversão óbvia do sobrenome e nome de seu pai! (Kevin Williamson, cadê você com teus roteiros maravilhosos  nesta horas!?)

Aliás faço minhas as palavras de outro telespectador deste filme que vi dizer que quando Julie e sua colega de quarto Karla ganham quatro viagens para uma ilha nas Bahamas na promoção de uma rádio, as circunstâncias suspeitas da vitória das garotas “causam pânico no espectador brasileiro antes das mortes começarem”. Ele tinha razão, pois elas simplesmente respondem a pergunta de uma promoção dizendo que a capital do Brasil era Rio de Janeiro! Alguém se esqueceu de lhes avisar que a resposta estava com muitas décadas de atraso.

Posteriormente Estes (Bill Cobbs), um antigo funcionário do hotel para onde as moças vão, será quem irá alertar-lhes e mostrar no mapa o engano, bem mais tarde e quando as primeiras mortes acontecem. Ele é um homem sábio e negro, que funcionaria bem como uma boa alegoria do “velho sábio” – que em filmes mais antigos de terror, podia ser um “velho sábio e sinistro” interpretado por muitos como um “mensageiro”, que costuma alertar sobre o que “se deve ou não fazer para sobreviver”… Mais recentemente Wes Craven, com sua metalinguagem,  atualiza esta “figura” para um “geek de filmes de terror” que conhece bem todas as “regras” de sobrevivência. Mas este é assunto para um próximo artigo… Neste vale dizer que já quase no final do filme Estes aparece como praticante de voodoo e por isto muito preconceituosamente acusado de assassino quando pequenos  pertences de Julie e seus amigos somem, e depois eles descobrem estar num altar na casa do idoso senhor. Que na verdade apenas estava tentando protegê-los com seus rituais ao perceber que coisas realmente sombrias (e que nada têm haver com práticas místicas ou religiosas) estão acontecendo.

Então, ainda na chegada de Julie e Karla à (por enquanto) ensolarada ilha, sem conseguir mais inovar com a temática do verão soturno (como foi feito lindamente no primeiro filme) o roteiro de “Eu ainda sei o que vocês fizeram no verão passado”   tenta se voltar por alguns minutos para o “verão genérico”, com piscinas e praia nas Bahamas… Embora em seguida o objetivo seja frustrar esta ideia colocando os personagens isolados num resort deserto com uma infindável tempestade de verão, que dura da metade de filme até o final – e eis aqui a justificativa do nome do artigo.

Como já dizia o falecido Randy Meeks, personagem “geek de filmes de terror” que mais me representava em “Pânico”/Scream: “as sequências de terror por definição são filmes inferiores aos originais e a contagem de corpos é sempre maior”, e ele estava certíssimo! Pois daí para frente será tudo o que veremos neste filme! Fazendo a alegria dos que assistem tais filmes apenas para ver as mortes mais bizarras e colaborando para a má fama do gênero quando isto acontece numa trama rasa como esta… O que se inicia após uma rápida interação de Julie e companhia com personagens coadjuvantes locais do hotel tais como uma barwoman Nancy  (Jennifer Esposito, que dois anos depois seria a vampira Solina em Drácula 2000)  que lhes serve uma bebida com nome particularmente interessante: “Tempestade Sombria”, a qual define exatamente a situação na qual eles se encontram.

Havia também um recepcionista e gerente arrogante e racista (Jeffrey Combs, repetindo personagens que já havia feito em outros filmes), o já mencionado Estes, Titus um maconheiro local que tenta vender erva para tudo que se mexa e tenta ser um alívio cômico no filme ( o querido e talentoso Jack Black, muito mal aproveitado e com uma morte absurdamente estúpida) e um funcionário das barcas negro e  uma camareira latina que nunca saberemos o nome porque morrem rapidamente e sem justificativa alguma somente para aumentar a contagem de corpos.

Então depois da tentativa de Ben em literalmente fritar Julie em uma das esteiras de bronzeamento artificial do resort, as famosas cenas de perseguição aqui foram trocadas por sucessivos gritos diante de cadáveres que vão tirando toda aquela maravilhosa tensão que as cenas de perseguição do primeiro filme nos davam. E aqui temos sustos mal dados  em, não uma, mas três moças sobreviventes – apesar de uma delas morrer pelo caminho: Julie, Karla e Nancy, onde elas vão encontrando um corpo atrás do outro… E cabe aqui mencionar um detalhe por trás das câmeras de que a princípio seria Karla quem morreria, mas acabaram mudando para Nancy.

Será que posso crer, pessoalmente, que talvez ficasse “feio” uma funcionária coadjuvante e sem importância para a trama (além de preparar as “Tempestades Sombrias” unicamente)  sobreviver, e uma coprotagonista negra morrer sem mais nem menos…? Contudo, tal pensamento pode ser pura ingenuidade minha considerando que na contagem de corpos os negros certamente ganham em disparada neste filme. Algo que não é exclusivo deste, uma vez que muitos filmes mais antigos seguem este padrão de mortes focado na hierarquia racial…Houve inclusive críticas sutis à isto na metalinguagem dos filmes de terror dos anos 90 e de maneira bem mais direta nos últimos anos.

Aliás, lembra do namorado da Karla, neste filme? O Tyrell… Além do fato de que ambos, O CASAL NEGRO (que deveriam ser COPROTAGONISTAS para formar um “novo quarteto” junto a Julie e Will) simplesmente NÃO TINHAM SOBRENOMES,  o texto do rapaz se resumia apenas a querer transar e falar disto todo tempo… E por mais que ele estivesse ocupando o lugar de Barry Cox como “o idiota do grupo” até o falecido loiro que era um imbecil hipócrita tinha falas melhores!

Encerro perguntado retoricamente… Quem escolheu este roteirista mesmo? Porque Kevin Williamson ficou de fora desta vez? Bom, provavelmente por sentir o “cheiro de tempestade sombria” no ar. Então, tomem cuidado com promoções e viagens suspeitas, veja se tem alguém com um gancho embaixo da tua cama antes de terminar de ler, e até o próxima postagem…Que será uma outra franquia, um filme original e e não sequência, assim por definição bem melhor que o de hoje.

[Analisando Filmes] – Tempestade de Verão – PARTE 1/2

Saudações novamente fãs do terror e do suspense! O filme de hoje é nada menos que a continuação do anterior estrelada pelos sobreviventes do filme que analisei na matéria anterior.  Feito em 1998 na tentativa de seguir o merecido  sucesso de “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”, o precursor “Eu AINDA sei o que vocês fizeram no verão passado” (“I STILL Know What You Did Last Summer”) foi dirigido por Danny Cannon, com roteiro de Trey Callaway. Vejamos quais detalhes relevantes podemos extrair deste aqui, embora desde já vou dizer que senti demais a falta de Jim Gillespie e Kevin Williamson, respectivamente diretor e roteirista do anterior. Então analisarei não somente alguns dos pontos altos, mas também os pontos baixos e incoerentes do filme.

Bom, não gosto muito de analisar sequências muito detalhadamente, uma vez que na esmagadora maioria das vezes elas perdem muito da essência e da profundidade dos filmes originais… Contudo há exceções (talvez raras) quando não estamos falando de sequências cinematográficas previamente planejadas, e algumas ainda valem como diversão ou simplesmente para se ter uma ideia de como ficou a vida dos personagens principais após o “final” da história. Se esta que analiso vale ser assistida ou não prefiro deixar o julgamento de vocês, mas certamente o original é melhor…

A aspas no vocábulo “final”, linhas antes, é porque histórias macabras parecem nunca ter um final definitivo, e sim sempre algo em aberto…Uma vez que sempre vale a regra: “se não houve corpo o assassino não morreu” e cá entre nós alguns filmes do gênero seguem esta lógica até depois do corpo aparecer, introduzindo elementos sobrenaturais ou quando estes já existem. Conheço uma música (que infelizmente não consta na trilha sonora deste filme) que dizia que “o mal que os homens fazem vive para sempre”… Acho que era mais ou menos sobre algo assim  que ela falava.

Bom, em “Eu ainda sei o que vocês fizeram no verão passado” (certamente um dos slashers com maior título já feito), a primeira cena suspeita desta vez não possui nenhuma trilha sonora especial para nos transportar à atmosfera soturna alguma, mas o próprio silêncio ambiente da cena e o foco no diálogo que sucede nos instiga um sentimento de curiosidade a princípio ao ver Julie (Jennifer Love Hewitt) , a nossa querida sobrevivente principal, em uma igreja confessando seus pecados sobre o acidente que mudou sua vida antes tão pacata. Gostei de como esta cena inicial deixa claro o sentimento de culpa intenso que ela ainda carrega acerca de todos acontecimentos passados. O ato da confissão cristã me soou uma ótima alegoria desta culpa, um daqueles clichês que sempre dão certo aos quais costumo elogiar, embora o filme esteja repleto de clichês mal usados mais adiante.

A cena que se segue chamou bastante minha atenção e não causou o efeito de “susto” desejado porque me pareceu bem familiar, pois quando a moça desperta gritando em plena sala de aula e descobrimos que era tudo um sonho me pareceu uma referência muito clara à algo que também aconteceu de modo idêntico em um filme de 1984 intitulado “A Hora do Pesadelo”/Nightmare on Elm Street (do mestre Wes Craven, de quem ainda pretendo falar em matérias futuras e que vocês devem  conhecer), na verdade a cena teve uma semelhança fotográfica que não me passou desapercebida. Gostei de verdade  da cena, mas ou foi referência gritante ou de fato cópia.

Logo o clima de suspense começa a ser quebrado após o foco se seguir no relacionamento dos sobreviventes: Julie James  e Ray Bronson, e aqui começam as incoerências. Pois a meu ver a maioria delas parecem perseguir o personagem de Freddie Prinze Jr, uma vez que notei um certo esforço do roteiro para preservá-lo na trama e ainda tentar fazer dele um “herói” de um  modo que me pareceu um pouco forçado, ao qual deduzo que foi para manter no elenco o ator que (como citei no artigo anterior) era um queridinho hollywoodiano naqueles anos.

Assim na primeira cena em que Ray aparece a própria Julie pergunta à ele o que todos os espectadores estão pensando naquele momento: o que ele está fazendo ali. Sim, porque se ela estuda fora da cidadezinha litorânea a qual ambos pertencem e fica claro que ele não, então por que diabos o jovem pescador faria uma viagem tão longa para visitar a namorada sem que ela mesma soubesse? E ainda apareceria literalmente do nada no campus de sua Universidade? Bom, a explicação que se segue é que ele veio para levá-la à cidadezinha natal deles para “as famigeradas festividades de 4 de julho” as quais conhecemos bem do primeiro filme, pois, foi exatamente quando e onde TUDO aconteceu nos últimos anos, e Julie (logicamente) logo se mostra resistente a voltar com ele.

E foi aí que  o “perfeitinho” do primeiro filme já começou a se tornar irritante, pois que tipo de bom namorado vem de longe para levar uma garota para uma festa onde eventos traumáticos ocorreram não somente para ela, mas para ele também e ainda fica chateado de ela preferir não ir? Um que tenha “peixe no cérebro” como Karla (a cantora de “Talk About Our Love”, Brandy Norwood), a colega de quarto e “nova melhor amiga da protagonista” diz em certo momento… Então, senhoras e senhores, ESTE não era o Ray que conhecermos anteriormente! Sem dizer que nas próximas linhas expressarei minha frustração pelo roteiro não apenas com isto, mas principalmente pelo desperdício imenso de oportunidades para uma trama muito melhor…

Desperdício este de um roteiro  que inclusive manteria Ray nesta história de modo bem mais convincente e interessante do que foi feito… E ainda com a boa sacada (que não houve) de  aproveitar bem pontos do primeiro filme, como foi tentado muito parcamente ao meu ver… Porque há uma cena no primeiro filme onde Ray dizia: “A profecia se cumpriu, eu me tornei meu pai… Meu pai era pescador, é tudo o que sei sobre ele…”…Cena seguida de alguns indícios de que havia momentos em que Benjamin  Willes, nosso pescador assassino a quem sabíamos ter uma filha falecida na idade dos protagonistas, parecia “pegar mais leve” com Ray do que com outras possíveis vítimas e isto é um fato inclusive questionado por Barry, um dos personagens que depois morre.

Por que cito isto? Porque encerrei a última matéria citando a questão social de Ray perante os outros protagonistas – que continua a mesma inclusive – e uma possível ligação dele com o assassino, que menciono agora: ambos eram pescadores, tal qual o desconhecido e mencionado PAI de Ray. E, como quem viu ambos os filmes da franquia (ou até mesmo somente este segundo) possivelmente sabe, a trama dá um suposto filho a ao nosso assassino-pescador… E estou de fato aqui analisando agora que a trama seria mil vezes mais coerente se ao final descobríssemos que este tal filho fosse Ray, baseando-se nos detalhes que acabo de destacar… Eu REALMENTE esperei por isto na época quando soube que haveria uma continuação, e até hoje fico com Ray como filho de Ben Willes em um canto minha mente quando fico muito tempo sem assistir ambos os filmes.

Porém infelizmente a história tomou um caminho bem mais banal, sem sentido e que por fim tentou trazer o impacto de “uma grande revelação” de maneira fracassada e muito menos competente. (Dói ver um grande clássico do cinema ser violado! Mas é o que mais acontece quando um filme possui renome, infelizmente…Com filmes e várias outras mídias.) Bom, talvez o sentido seria usar este “filho” como pessoa próxima para preparar a armadilha para Julie, como foi feito, e Ray não se encaixava no perfil. Contudo então que isto fosse feito de modo mais coerente e que Ray não passasse o filme todo indo de uma cidade à outra e por fim para BAHAMAS como se a distância fosse “logo ali na esquina”, sabendo-se que ele era um rapaz pescador de poucas posses, para depois de tudo chegar lá com “pinta de salvador” e NÃO FAZER ABSOLUTAMENTE NADA!

Mas como ainda estamos no início vamos por partes, como diria Jack o Estripador ou o próprio Ben Willes, que inclusive passa a ter um “upgrade” em sua arma de matança  nesta sequência: antes ele usava um gancho para matar em lugar de lâmina, agora este de fato se tornou sua mão, que havia sido decepada ao final do primeiro filme. E notamos facilmente a mudança de sua personalidade, que antes era assustadora mas ainda podíamos enxergar um pai que havia enlouquecido com a morte da filha e matado aquele a quem julgava responsável por isto, ou o vingador que elaborava toda um jogo psicológico de perseguição e morte àqueles que haviam “matado” ele mesmo e se descartado seu corpo…Agora ele de fato se torna um monstro, que agredia a esposa no passado e uma máquina de matar no presente.

CONTINUA…

[Analisando Filmes] – Brisa de Verão – PARTE 2/2

Então continuemos esta análise, que tal como um genuíno filme de terror tem mais de uma parte embora continue a falar da mesma coisa…rs Continuemos assim a falar do “filme do ASSASSINO COM UM GANCHO NA MÃO…” A primeira parte desta matéria se encontra em [Analisando Clássicos] – Brisa de Verão – Parte 1. Como eu dizia, o tempo passa e o atropelamento seguido de morte, provocado pelos quatro jovens de uma cidade praiana completa um ano.

Julie, nossa protagonista, que havia saído da cidade logo após o fatídico acontecimento para estudar retorna, e vemos claramente como o último verão mudou sua vida numa conversa rápida entre ela e sua mãe, quando a mesma lhe entrega uma misteriosa carta recebida dias atrás, onde veremos o título do filme explicitado de modo que acho brilhante do ponto de vista estético (na imagem que fiz questão de printar, vista acima).

À medida que Julie vai reunindo os companheiros para falar sobre o bilhete vemos as mudanças e constâncias ocorridas em um ano: como os sonhos de juventude de Helen e Ray que não se cumpriram, e a irritante hipocrisia de Barry que prossegue a mesma. Acontece a morte de Max como um “funesto aviso” (sim, ‘Leonard” morre neste filme) e um merecido quase atropelamento envolvendo Barry, também como advertência.

Então à esta altura nossos “heróis” estão especulando e nem desconfiam que o autor de seu tormento é Benjamim Willes, o mesmo homem que eles pensam ter matado. Eles pensam que se trata de alguém que conhecia David Egan, para eles o suposto atropelado… Então após a aparição até de uma irmã de David, que Julie e Helen vão visitar numa cabana no meio do nada, Julie finalmente compreende o real mistério e entende que Benjamin matou David por este ter sido responsável por um acidente que matou sua filha Susie naquela mesma curva – sim, aquela curva próxima lá do rochedo do início, aquela da “brisa de verão soturna”…

Agora entendemos que naquela primeira cena o rapaz melancólico (David Egan) estava lá pensando em sua namorada falecida num verão anterior, e foi morto um verão depois por Benjamin Willes que foi atropelado horas após na mesma noite pelo quarteto de amigos, e assim espera pela mesma estação para se vingar deles. Acho realmente um ciclo cármico bem poético este existente nesta história, tal como a trama consegue nos fazer olhar de modo totalmente diferente para uma época do ano normalmente associada somente à sol e diversão.

Sobre o como as mortes acontecem não irei detalhar todas, mas prefiro falar de alguns pontos que chamam atenção para serem analisados em duas das principais, em particular. Primeiramente gosto como o fato da arma do assassino não ser a tradicional lâmina e sim um gancho, como inclusive foi “sugerido” lá no início pelos próprios jovens que o teriam matado enquanto descantavam seu corpo. Da mesma forma é importante ver o descaso alheio representado nas mortes de Barry e de Helen.

Quanto a Barry, (personagem inclusive que não lamentei tanto ao ver morrer), a morte ocorre dentro de um teatro lotado e bem diante dos olhos de uma Helen apavorada, enquanto o resto das dezenas de pessoas presentes no evento mal entendem o que está acontecendo. Cena que demonstra não apenas a ousadia de Benjamin ao matá-lo num local com possíveis testemunhas, mas também destaca o total descaso alheio, pois até quando Helen totalmente abalada conta o ocorrido aos policiais, eles a tratam com escárnio e não lhe dão a mínima atenção.

Quero destacar também como a morte da própria Helen Shivers (sim, “Buffy” também morre neste filme) acontece numa sequência que se inicia em plena viatura policial e – após muita perseguição com sustos e adrenalina, daquelas que de fato assistimos este tipo de filme para ver – e muita luta por parte da moça, termina num beco escuro e com um desfile inteiro passando metros ao lado enquanto Benjamin executa seu funesto intento. Algo que analiso como um modo a criticar como tantas “Helens” na vida real estão sendo atacadas todos os dias após lutarem bravamente por suas vidas ou não, mas ninguém se importa…

Julie James, após ser encarada por Ben Willes – mostrando a face e sem a capa de pesca que neste filme aparece para oculta-lo em lugar da tradicional máscara – ao ouvir de seu algoz com todas as letras a razão de sua vingança, também terá sua grande cena de perseguição: dentro de um barco pesqueiro, encontrando pelo caminho os corpos dos mortos que o assassino-pescador faz questão de dar o mesmo exato tratamento que daria ao pescado. Tal epopéia ocorre de maneira brilhante no contexto de um filme com temática que envolve o mar, barcos de pesca e um pescador como assassino… E ressalto que (assim como na perseguição de Helen) a cena prende nossa respiração do primeiro ao último minuto torcendo pela mocinha… Contudo felizmente Julie e Ray sobrevivem para estrelar a continuação.

Haveria outros pontos a detalhar – como a questão social de Ray frente aos outros protagonistas ou um vislumbre da trama que o envolverá e o ligará à Ben Willes na continuação: Eu ainda sei o que vocês fizeram no verão passado… – mas como ainda temos muitas outras tramas soturnas para analisar e demonstrar pontos talvez nunca antes observados, tais como os que tentei esmiuçar aqui, deixarei os demais detalhes desta para que vocês confiram por si mesmos caso nunca tenham assistido ou revejam com outros olhos caso já conheçam e tenham visto o filme como “só mais um filme de terror com sangue e morte”. Então, que a Brisa de Verão faça você se sentir bem… E até a próximo verão… Ou melhor, a próxima postagem, ainda neste verão mesmo!

[Analisando Filmes] – Brisa de Verão – PARTE 1/2

Saudações fãs dos clássicos! Como prometido na postagem “Primeira Cena Suspeita“, que fazia já em seu título referência direta a uma característica marcante em filmes de terror e suspense clássicos.  Então sem mais enrolação vamos para o primeiro filme a ser analisado: “Eu Sei o que vocês fizeram no verão passado” (I Know What You Did Last Summer, no original), dirigido em 1997 por Jim Gillespie com roteiro de Kevin Williamson baseado no livro de Lois Duncan – sim, poucas pessoas sabem mas este filme foi baseado em um livro! Numa época em que este tipo de informação não costumava vir nos pôsteres dos filmes como hoje e o público nem sempre ficava sabendo facilmente da real fonte da história.

Bem, pois podemos começar a análise de fato pelo início… do filme. Mais precisamente nos primeiros minutos onde a primeira cena dá o tom perfeito do que poderemos esperar dos próximos 99 minutos, e a abertura do filme se faz (de modo brilhante) com uma primeira tomada da costa do mar quando o mesmo começa a se tornar escurecido pela ausência do sol e horizonte ganha um tom cinzento e de aparência soturna para receber a noite… Uma cena rápida e aparentemente insignificante, mas que prepara o clima perfeitamente para uma história de assassinato que se passa numa comunidade de pesca à beira mar.

E se tratando de uma história de atmosfera soturna que envolve diretamente o período do verão – estação que aparentemente não combinaria nem um pouco com a temática – foi uma sacada de mestre que esta primeira cena possuísse como plano de fundo a música “Summer Breeze” da banda Type O Negative, cujo baixo arrastado e vocal profundo de Peter Steele ajudavam perfeitamente a compor a atmosfera de um verão numa cidade costeira cuja maresia pode trazer a promessa de morte para breve, como de fato acontece – inclusive vale citar que é o título desta música traduzido, “Brisa de Verão”, o que dá o nome desta matéria…

Bom, posso comentar também a minha reação na época em que assisti o filme pela primeira vez diante daquela trilha sonora da cena de abertura: eu simplesmente achava que a voz escutada na música era feita artificialmente por algum “efeito do filme”, para tornar a sonoridade mais sombria ou algo assim. Qual não foi minha surpresa depois ao descobrir que aquela era a voz REAL do vocalista de uma das maiores bandas da história do goticismo, apesar de não ser exclusivamente “gótica” sonoramente, e a qual passei a ser fã anos depois. Mas sobre o Type  O Negative talvez seja uma análise a ser feita em outra postagem.

Comento também aqui que inúmeros filmes deste gênero na década de 90 traziam bandas de rock, desde as mais leves às mais soturnas em suas trilhas sonoras. Músicas que comumente possuíam algo haver com os títulos dos filmes ou suas tramas. Podemos considerar esta uma característica a mais dos filmes desta época, em especial para quem presta atenção também nos detalhes e não apenas no sangue. Conheci muitas bandas de rock na adolescência exatamente através da trilha sonora de filmes queridos. Talvez um dia faça uma matéria sobre filmes e bandas…

Mas Voltando então ao que nos importa mais no  momento e retomando à citada cena do filme em análise, após a tomada panorâmica e sombria pela costa rochosa no instante em que começa a escurecer, vemos um rapaz aparentemente melancólico sentado nas rochas, observando o mar tornar-se negro com a chegada do anoitecer ao longe, repentinamente quando ele parece se levantar a cena termina… Mais tarde na trama ficaremos sabendo que naquela cena aparentemente irrelevante houve a primeira morte do filme, que ocorre de modo sutil e quase imperceptível, e passa a princípio a ser encarada como um suicídio por alguns personagens.

Assim o filme muda para outra parte da cidadezinha e nos mostra os quatro protagonistas, nos apresentando-os em um evento anual da comunidade onde podemos em poucos minutos conhecer de modo claro as personalidades de cada um, algo que também será relevante na trama dali para frente. Aparecem aqui quatro dos clichês clássicos dos filmes de terror jovem desta época: Julie James (Jennifer Love Hewitt) – a mocinha totalmente correta e potencialmente inteligente, Helen Shivers (Sarah Michelle Gellar, ninguém que nossa amada Buffy- a Caça Vampiros) – a melhor amiga da mocinha, mais ocupada com a aparência do que outras coisas, Barry W. Cox (Ryan Phillippe) – o babaca do grupo, sem nada na cabeça e preocupado só com músculos e a própria virilidade, Ray Bronson (Freddie Prinze Jr, queridinho de Hollywood da época) – o namorado da mocinha, “perfeitinho” e atencioso, aparentemente gentil, porém potencialmente suspeito em alguns momentos do filme.

E apenas para deixar claro, não os defino como “clichês” aqui entendendo isto como algo ruim, pelo contrário… Sou pessoalmente uma defensora dos clichês saudosistas que funcionam, não gosto de demonizar tais elementos constantes nas narrativas (filmadas ou escritas), pois acho que num geral devemos os grandes clássicos à eles, em quase todas as mídias… Basta que sejam bem trabalhados.

Mas retornando ao nosso “quarteto de veraneio”, eles saem da festa onde estavam e vão de carro para uma praia deserta que por “coincidência” fica pertinho daquela mesma encosta rochosa lá da primeira cena suspeita tão detalhada por mim no início deste texto… E aí vem mais um detalhe que comentei rapidamente na matéria de introdução do especial e que eu sempre noto (e adoro) nos filmes de terror ou suspense não apenas nos anos 90 mas também nas décadas de 70 e 80: as conversas de mau agouro…

Acho realmente criativas estas “conversas temáticas” que sempre costumam acontecer nos roteiros da maioria dos filmes do gênero, mesmo quando em teoria os personagens ainda nem imaginam o que os espera… Aqui a conversa dos quatro amigos gira em torno de lendas urbanas que envolvem lições moral, a ideia de folclore macabro contemporâneo baseado em incidentes de vida real, e principalmente UM ASSASSINO COM UM GANCHO NA MÃO…

Detalhe engraçado é que eles citam uma história que depois vai ser encenada em outro filme de estilo e temática semelhante: o próprio intitulado Lenda Urbana – a história/lenda do “enforcado numa árvore”… Me pergunto se sendo obras cinematográficas feitas num mesmo panorama temporal, se uma não teria inspirado a outra… E gosto de pensar que talvez sim…

Então retomando aquela sombria noite de verão, as duas garotas e os dois rapazes resolvem retornar para a civilização após a incursão à praia isolada e principalmente após a bebedeira de Barry, o idiota do grupo, que é por ventura o dono do único carro que servirá de transporte.

E é neste pedaço que o filme começa para os que vieram apenas para ver gente morrer… Pois mesmo não estando ao volante Barry (o beberrão) consegue causar um grave acidente fazendo com que Ray (o certinho) atropele um homem na estrada. Detalhe nesta cena que com o tempo se torna cômico é que logo quando o grupo se vê em pânico decidindo o que fazer com o corpo aparece um conhecido de carro ao acaso na estrada, que se trata de ninguém menos que Max Neurock (Johnny Galecki, o Leonard de Big Bang Teory em começo de carreira).

Então como uma cena bem conhecida, por ser um ponto principal do filme, os quatro amigos por fim jogam o corpo do suposto falecido ao mar e ainda dizem diante dele antes de o arremessarem que para lidarem com a culpa “era só fingir ser aquele homem um assassino com um gancho na mão”… E, senhoras e senhores, é exatamente no que o indivíduo vai se tornar para se vingar! Um ponto interessante é que no livro este atropelamento seria ainda mais macabro, pois se tratava de um menino ligado ao assassino e não o próprio. Penso que optaram por mudar no filme para que o público tivesse mais empatia com os protagonistas e menos com a vingança do assassino.

Bom, o tempo passa e o ocorrido completa um ano. Julie havia saído da cidade logo após o fatídico acontecimento para estudar numa faculdade e já não tinha mais notícias dos outros três amigos. Quando ela retorna vemos claramente como o último verão mudou sua vida numa conversa rápida entre ela e sua mãe, quando a mesma lhe entrega uma misteriosa carta recebida dias atrás, onde veremos o título do filme explicitado de modo que acho brilhante do ponto de vista estético…

CONTINUA…